Educação Somática
Penso a Educação Somática como uma abordagem sistêmica, que tem base na prática educativa, e lida com tudo o que somos. Somos corpo e todas as suas manifestações.
A palavra soma, utilizada nesse contexto, marca o fim da fragmentação mente-corpo, trazendo a ideia de corpo subjetivo. Hoje compreendemos que somos ainda mais complexos e assim, na minha prática, trago noções de inteireza da pessoa (mente, corpo, cultura, ambiente), para um bem viver que contemple, em harmonia, seus aspectos fisiológicos, cognitivos e afetivos.
Técnica Alexander
"A Técnica Alexander não te ensina a fazer algo novo. Ela te ensina como trazer mais inteligência prática para o que já se está fazendo: como eliminar respostas estereotipadas; como lidar com hábito e mudança."
Frank Pierce Jones, pesquisador da Tufts University
Gosto dessa citação pois me parece tocar em algo fundamental à essa técnica: nós olhamos para o que está sendo feito. Acredito fortemente no desenvolvimento das habilidades de auto observação e auto regulação como ferramentas práticas valiosas para vivermos com mais alegria.
Nas aulas, não ensino movimentos complexos ou ideias mirabolantes, mas sim, modos de perceber, observar e mudar aquilo que já existe. Muitas vezes, chamamos isso de hábito e alguns deles podem ser nocivos ao funcionamento total da pessoa ou simplesmente não estão mais condizentes com os desejos do momento.
Somos mutáveis, somos processo; estamos em constante criação de nós mesmes. E é nesse movimento que eu gosto de acompanhar as pessoas.
A técnica Alexander funciona baseada em alguns princípios fundamentais, dos quais destaco: uso afeta funcionamento, reconhecimento de hábito, inibição e direção/ direcionamento.
As aulas podem ter diferentes formatos, mas costumam envolver toque e movimentação simples e familiar à pessoa. Movimentações específicas e outros saberes podem fazer parte das aulas, a partir dos interesses e especificidades des alunes.
Minha trajetória com isso tudo...
A educação somática tem papel importante na minha trajetória como pessoa e como profissional. A primeira vez que ouvi falar dela, foi através da Eutonia, quando meu treinamento em balé clássico era demasiadamente intenso e comecei a desenvolver condições físicas dolorosas, que se tornaram crônicas com o tempo. Naquele momento, os atendimentos de eutonia me ajudaram a lidar com dores e entender um pouco melhor diferentes possibilidades de tônus muscular.
Depois disso, na faculdade de comunicação das Artes do Corpo, na PUC, pude estudar mais a fundo a Eutonia, com Rosa Hércules e conheci as maravilhas do estudo de movimentos de Klauss Vianna, através de Neide Neves e Helena Bastos. As aulas de educação somática acompanharam os quatro anos de formação e ampliaram imensamente minha compreensão do corpo que se move e dança.
Foi também na PUC que ouvi pela primeira vez sobre a “técnica Alexander”. Quem trazia um pouco desse conteúdo era o querido Umberto Silva e foi na aula dele que eu “destravei” partes do meu corpo criativo… eu não sabia o que estava acontecendo, mas foi ali que eu de fato comecei a operar a partir de uma integração mente-corpo-cultura.
Finalizando a graduação, conheci Ana Thomaz em uma escola de teatro e, já em encantamento com a técnica, iniciei as aulas particulares. Nesse processo, meu modo de vivenciar o mundo mudou inteiramente, para melhor. Minha experiência do tempo ficou mais tranquila, aprendi a reagir com menos tensão a estímulos complexos e ganhei muita confiança nas minhas escolhas. Assim, decidi fazer a formação na técnica Alexander.
Essa decisão me levou à Londres, onde, por três anos e meio, estive em imersão nos estudos. A escola se chamava London Centre for Alexander Technique and Trainning (LCATT) e foi uma das experiências mais intensas e transformadoras da minha vida, mudando inteiramente a minha percepção de mim e consequentemente do modo como entendo a vida, o mundo, as coisas e as relações.
Voltei ao Brasil em 2012 e, de formas variadas, trabalho com educação somática desde então. Atendimentos individuais, acompanhamentos criativos, aulas coletivas de estudo do movimento, preparações corporais para dança e outras artes do corpo são exemplos de como venho atuando.
Tenho especial interesse nas relações entre corporeidade e experiências socioculturais, reconhecendo noções de inteireza da pessoa, para produzir vida e vitalidade.
Atua com público diverso, trazendo mais ou menos especificidades de outras áreas do saber (como estudo do movimento, dança, performatividade, estudos culturais e estudos da identidade), a depender das necessidades e interesses específicos de cada pessoa interessada.
Atualmente, estou estudando psicologia e mantenho vivo meu interesse pelos diferentes modos de se perceber e se criar.


